Dizer o contrário daquilo que se pensa de forma intencional e perceptível. Esta é a definição mais usual de ironia. Melhor do que discorrer conceitualmente sobre essa figura de linguagem, é situá-la na obra literária onde encontra morada e razão poética de ser. Este é o caso do conto de Machado de Assis, Um Homem Célebre.
Um Homem Célebre é um conto de Machado de Assis no qual a densa narrativa do conto apresenta um compositor que se sente impotente perante a impossibilidade de concretizar o seu sonho: compor um grande clássico da música erudita. Por mais que se esforçe, não logra qualquer sucesso. Ao contrário de seu desejo, o seu talento natural é para compor polcas, música popular e destituída do prestígio do meio erudito. Aí não lhe falta criatividade e uma profusão de composições. Por conta disso, Pestana torna-se famoso e rico compositor de polcas.
Pestana não é, apesar de tudo, um homem feliz. Embora as suas músicas sejam famosas o seu sonho é compor uma peça clássica, uma sonata. Ele bem tenta procurar inspiração em Mozart e Beethoven, mas acaba sempre por compor uma polca que acabará por ser um sucesso. O facto de não conseguir alcançar o seu ideal de perfeição deixa-o desequilibrado e a insatisfação que sente é de tal ordem que o leva à falência e ele vê-se obrigado a vender os seus bens para pagar as dívidas.
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